quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

MACAPA

MACAPÁ 254 ANOS

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR
POR > ALEXANDRE VAZ TAVARES

Um dos poemas mais belos, e uma verdadeira declaração de amor a esta cidade foi escrito pelo Poeta, medico e amapaense ALEXANDRE VAZ TAVAREZ, nascido em 08 de agosto de 1858, e falecido em 03 de abril de 1926, primo do Medico Acylino de Leão, publicado na Revista de Educação e Ensino do Pará em Agosto de 1889.

Segundo Dr. Acylino “ Dos filhos de Macapá que de lá saíram para estudos, NENHUM amou a Terra do berço com mais entranhado afeto.”

MACAPÁ

Na esquerda margem selvosa
Do rio-mar, o Amazonas,
Pensativa e descuidosa
Como essas gastas madonas
Das noites de bacanal,
Descansa da atividade
Dos anos, na nova idade,
A minha amada cidade,
Minha cidade natal.

Para leste orientada,
Em face encara o nascente,
De onde lhe envia a alvorada
Um beijo róseo-nitente
Em cada raio de sol.
À noite a lua de prata
Fios de perola desata
Por entre a florida mata
Onde dorme o Rouxinol.

Ao Oiapoque, o guiano,
Vão seus solos marginais,
Que se prolongam, no plano
Das divisas boreais,
Em serras em alcantil
A oeste, vastas campinas,
Amplo tapiz de boninas,
Com pingues raças bovinas,
Riquezas e encantos mil.

Por atalaia gigante,
Ou em sinal de defesa,
Do granito mais possante
Levanta uma fortaleza
Negras muralhas ao sul.
Outrora adornadas de aço,
Faziam troar o espaço
Dos canhões seus com o fracasso,
No vasto horizonte azul.

Outrora, quando ascendia
Sobre aquela grimpa ingente,
Entre os sons da artilharia
O pendão aurifulgente,
O auriverde pavilhão:
Trajava a cidade inteira
Alva roupagem faceira,
Pela data brasileira
Oufesta de devoção.

Então, que alegre não era
Ver-se o ledo rodopio,
Em manhãs de primavera
Ou nas tardinhas do estio,
De um povo em festa a folgar:
Moças com laços de cores,
Raparigas com mil flores,
Rapazes buscando amores...
Tudo era rir e brincar!

Hoje...Lá jaz o colosso
Quase em total abandono,
Formando quasi um destroço
Na triste nudez do sono
Do desprezo mais cruel.
É correção de soldados;
É presídio de forçados;
É terror de condenados;
De criminosos, quartel.

Hoje o bronze já não salva
Da galharda bateria,
Quer assome a estrela D’alva,
Quer venha a findar o dia.
Não fosse a luta feral
Do rio-mar com a procela,
Ou os brados da sentinela
Quando, acaso, a noite vela,
Fora tudo em paz mortal...

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Maldito! Maldito seja
Vezes mil um tal governo
Que insaciável deseja
Céus e terra e até o averno
Desfeitos em outro só!...
Maldito, porque os legados
De nossos antepassados,
Em vez de serem zelados,
São desprezados sem dó!

Sim! Maldita a Monarquia
Aleijão de privilégios,
Que cegamente confia
Aos fátuos caprichos régios
A sorte de uma nação.
Ao sistema, imperialismo,
Ao torpe maquiavelismo
D’El-Rei, Senhor, egoísmo,
Maldição! Sim, maldição!...
Dorme, cidade e, em teu sono,
Sonha os fulgores de outrora...
Veneza já teve um trono,
Já foi dos mares Senhora
E às nações já leis ditou;
Mas, hoje...Ei-la: descansa,
Rememorando a pujança
Dos tempos lhe arrebatou...

Dorme!... Tens aos pés prostrado
O rio-mar, bardo eterno,
Que entoa sempre inspirado
Ora, o canto mais galerno,
Ora, os hinos do tufão...
Dorme aos sons das cavatinas
Das aves entre as cortinas
Dessas florestas divinas
De teu risonho sertão!